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domingo, 13 de janeiro de 2013

Carta as pressas


Meu querido Evan, escrevo-lhe esta carta com todo o meu coração. Peço que entenda o que estou sentindo, ou pelo menos tente, por mim. Hoje, exatamente hoje, fazem dezessete primaveras desde que nos vimos pela última vez. Sinto que falta um pedaço de mim desde então. Caso não se lembre, tu me prometestes o mundo, recorda-te agora? Tu detonaste o meu, mal sabendo que ja o habitava, é triste nossa história. Imagine como me sinto neste momento. Quero que saibas que regressei a cidade. Outrora passei perto daquela fonte, sim aquela que costumávamos nos encontrar todas as tardes, vi outros jovens sentados onde nós ficávamos  sentei-me ao longe e fiquei por observá-los. Senti-me jovem novamente, pude sentir o vento trazendo-me a memória o cheiro de seu suor doce de garoto. Eu sempre soube que fugir não era boa coisa, pois me colocaram doutro lado do mundo por tanto tempo, e agora cá estou a escrever-te e por morrer de saudades tuas. Queria eu estar agora escondida por entre as parreiras que nos perdíamos quando nossos pais estavam a nos procurar. Queria eu agora estar a cuidar de ti. Queria eu tanta coisa neste mísero minuto ingrato. 
Hoje tu serias meu maior companheiro, talvez se não estivéssemos tão longe, mesmo estando tão perto.  Somar a distancia ao tempo não gera um resultado muito proveitoso. Não nesse caso. Agora estou velha e minha lucidez só serve para me lembrar do quanto nós eramos felizes. Evan meu bem, fui levada muito cedo e sem delongas para me despedir de ti, quero poder explicar-lhe e desejo que tu me entenda, mais uma vez. Eu não sumi, eu não o deixei, eu não queria nada disso. Eu fui levada a força, carregaram-me para longe de ti mas meu coração ainda continuava a bater bem perto. Sempre quis que a criação de uma criança que sempre planejamos, pudesse desfrutar de um pai presente. Miguel não pode. Sim meu querido, Miguel. Como tu dizias que gostava. E assim concedi-lhe o pedido. Meus pais nunca nos aceitaram e também não foram cordiais quando souberam de minha gravidez, ainda mais de um filho teu. Então fugimos, eu mais Miguel. Conto-lhe da nossa história desde muito pequenino, e seu sonho era encontrar o pai. Cá estamos a sua procura. Espero poder encontrar-lhe no lugar de sempre, na hora de sempre, e agora com o nosso filho.
Miguel desde então tens sido belo filho, apesar de grandes contra-tempos que nos ocorreu. Evan, meu grande amor, queria pode reescrever-te tal carta, mas prefiro a folha ja amaçada e um tanto amarelada, para que tu saibas que ja se passaram anos e que estamos juntos e como uma família, como tu desejaste, como eu desejei, e como Miguel também desejou. Alzheimer não é uma doença fácil de se tratar, e tu não andas se recuperando com os remédios, e os doutores estão a desistir de ti. Mas o nosso amor é grande e não vai nos deixar abandonar uma vida. Evan, eu te amo. Com amor, de sua esposa Iolanda. 

                                                                      Rafaella Alvez

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