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sábado, 27 de abril de 2013

Só de passagem


De certo modo foi bom. Me sentia atormentada por isso, porém era um tormento positivo. Foi um arrepio que subiu percorrendo toda a espinha quando você tocou minhas costas me puxando para perto. Sempre me desafiei a andar sozinha, sempre gostei da minha individualidade, aprendi que o singular é bonito e único, e me prendi a isso. Meus passos leves e sem compasso me flutuam até onde eu devo ficar e me arrastam quando devo ir, sem ao menos aviso prévio. Mas ali era o meu lugar, pelo menos por enquanto, e não só os meus pés estavam presos e intactos ao chão, mas, irredutível como ferro e imã eu me encontrava nos seus braços, somente podendo ouvir a nossa respiração. Seu sorriso assim como o meu era incontido. Eu 
queria reclamar da sua indiferença com algumas coisas e do timbre da sua voz quando chama meu nome com ar debochado, queria poder reclamar por você não assumir o controle quase nunca, mas sempre que o faz quero que pare. Não sei bem se era o perfume forte na sua roupa, que depois de um tempo se empregnou na minha, ou se foi o beijo já embriagado que despertou tamanha façanha, mas dessa vez mesmo eu sabendo que seria ligeiramente rápido, desejei ficar e sentir. Sua mão tocando suavemente meu rosto, enquanto a outra me puxa pra mais perto, seu sorriso de canto e olhar insaciável, nossos desabafos do dia, do trabalho, das aulas, as repreensões que na maioria das vezes sou eu quem faço. Detalhes que se prendem à memória e se questionam entre si. Mantendo os pés firmes no chão, e me afagando em seus braços, me encaixando numa posição para me sentir acolhida e confortável enquanto você me abraça e pede com o jeito mais delicado possível pra eu não ir, mesmo soltando a minha mão, me faz querer ir, mas não só ir para outro cômodo, outra sala, outro ambiente, faz querer ir embora, por que a mão que me puxa é a mesma que me empurra. Acho que isso é o que me mantém perto, por que com os poucos contras, temos todos os prós a favor. Tua blusa sempre foi ótima, cheirosa, quentinha, bonita e toda perfumada, mas sempre ficava grande demais em mim, e você fazia questão que eu a usasse, dizendo que ficaria mais perto de mim, mesmo sabendo que clamando por raízes, meu coração ainda possui asas e quer se aventurar.

                                                                       Rafaella Alvez

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