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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

As vezes se surpreender não é tão ruim

Eu sempre achei incrível poder escrever sobre as quatro estações e retratá-las de forma espetacular nos meus textos de garota. Mas hoje resolvi pintá-las, inciei meu quadro com um borrão de tinta alaranjado, joguei um pouco de amarelo e derrubei umas gotinhas em vermelho, e aquilo era o meu outono em brasa! Noutro canto retratei exatamente como são os mais belos flocos de neve que pude me lembrar das viagens que fiz, um pouco de azul e um bocado de branco e o meu inverno estava representado, quase que me fazendo sentir um pouco de frio. Misturei o rosa, o marrom, um tiquinho do verde e uma gotícula minuscula do amarelo e ali surgiu a tão famosa primavera, fazendo então em mim desabrochar a flor que estava prestes a ir buraco a baixo. Havia um espacinho em branco ainda no meu quadro, faltando uma pintura e uma estação, eu estava a preencher a lacuna, pretendia borrar um pouco das cores que usei no outono, e usar algumas cores que eu ainda não fazia idéia. Quando a porta bateu fortemente na cozinha. Com o meu macacão de pintura todo sujo de tinta, e os pincéis nos grandes bolsos, saí depressa com um deles na boca e outro na mão, cabelo desajeitado e descalça. Não era nada, além do vento. Agora tomava água observando a vista da janela da cozinha, me parabenizando mentalmente por ter feito tal escolha, quando ouço um ruído vindo das escadas. Um pouco desconfiada, subo devagar e ouço rangidos no chão de madeira, entrando no longo corredor, vejo algumas pétalas de margaridas, bem semelhantes as pétalas de girassóis, mas eram de margaridas, eu saberia diferenciar em qualquer lugar, mesmo longe. Curiosa, ouço uma música baixa e lenta vindo do último quarto. Esse momento foi assustador e instigador, aquele quarto era vazio, aliás, eu só usava para pendurar meus quadros, que cobriam quase que todas as paredes do cômodo. Entrando desconfiada, encontro meu espelho um pouco a frente da entrada da porta. Me observando do banheiro, pude ver seu reflexo se aproximando de mim, e senti-lo me abraçar cochichando ao meu ouvido, enquanto tremia. Me fez parar no centro do quarto, e colocou o espelho a nossa frente, e pediu-me delicadamente, ainda me abraçando forte e tremendo, que pintasse nós dois juntos, na situação que nos encontrávamos, e sendo mais abusado ainda, pediu-me que depois fizesse uma história para aqueles que eu pintaria. Me deu um beijo doce. Com seus olhos ternos e decididos disse que realizaria a história dos dois jovens do quadro. Aprendi naquele verão, a não desperdiçar tinta, e pintar o necessário, e você me ensinou a pintar a nossa história. 

                                                                    Rafaella Alvez

2 comentários:

Marina Menezes disse...

Gostei do tom do texto (: a brincadeira com os tons de tinta é delicada e bonita. Seu bg é adorável também *-*
Já estou seguindo (;

Rafaella Alvez disse...

É uma honra ter vocês entre meus membros, e os elogios são muito válidos, muito obrigada e seja bem vinda ;)

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